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O fim da vida de um satélite

O fim do Sentinel-1B

No início deste mês de Agosto, a o Anomaly Review Board (Comissão de Análise de Anomalias) da Agência Espacial Europeia (ESA) concluiu que o satélite Sentinel-1B chegou ao fim da vida.¹ Para além de no imediato reduzir a capacidade do sistema Copernicus de monitorização da Terra, o fim de vida do Sentinel-1B relembra a necessidade de planear e executar planos de desactivação e remoção de equipamento actualmente na órbita do nosso planeta.

Sentinel-1 Radar Vision. Credit: ESA/ATG medialab
Sentinel-1 Radar Vision. Credit: ESA/ATG medialab

SAR – Synthetic Aperture Radar

Lançado em 2016, o Sentinel-1B juntou-se ao Sentinel-1A (lançado em 2014) num dueto concebido para observações de radar de alta resolução. À semelhança do que faz um morcego com impulsos de som para saber onde estão os insectos de que se alimenta, um radar emite impulsos electromagnéticos em direcção ao que pretende observar e mede o eco dos mesmos. O tempo ida-e-volta ajuda a formar uma “imagem” de relevo do que se observa. Por outro lado, o impulso reflectido também trás para o satélite informação sobre o tipo de material que o reflectiu. Para assegurar a alta resolução, estes satélites usam a técnica synthetic aperture radar (SAR)² em que “abertura sintética” significa que a dimensão da antena que recebe o eco é artificialmente “aumentada” pelo movimento do satélite (ver imagem abaixo).

Uma antena em movimento vale por um grupo de antenas.
Técnica de observação SAR (synthetic aperture radar, radar de abertura sintética). Uma antena em movimento vale por um grupo de antenas. Credit: Charly Whisky (Christian Wolff)

Aplicações

As observações do dueto Sentinel-1A e 1B têm aplicações variadas e importantes³, incluindo:

  • monitorização do Árctico e gelo marinho
  • vigilância de navios em alto mar
  • monitorização da poluição por petróleo
  • estudos de ventos marinhos, silvicultura, e agricultura
  • cartografia de deformações urbanas
  • monitorização de inundações, de deslizamentos de terras
  • análise de terramotos
  • observação de vulcões.

A falha

A 23 de Dezembro de 2021 o instrumento SAR do Sentinel-1B deixou de responder. Após um procedimento criterioso de identificação do problema, que incluiu várias tentativa de recuperação do sistema, e após 20 reuniões do Anomaly Review Board da ESA, a decisão foi tomada de desactivar o satélite. Este documento descreve em detalhe a cronologia dos eventos. Os sistemas que falharam no Sentinel-1B estão a ser monitorizados com atenção redobrada no Sentinel-1A, que é dois anos mais antigo.

Soluções imediatas e de futuro

Para ajudar a colmatar a falta do Sentinel-1B, o plano de observações do Sentinel-1A foi ajustado e a ESA estabeleceu parcerias com outras missões para adquirir dados suplementares do mesmo tipo.

O reforço da equipa Sentinel-1 já está planeada. Contratos para a produção dos Sentinel-1C e 1D no valor de €400 milhões foram assinados no final de 2015. A ideia é assegurar continuidade até 2030, e para além dessa data lançar uma nova geração de satélites que substituirá a constelação Sentinel 1. Segundo informações da ESA¹, com o fim-de-vida do Sentinel-1B, o lançamento do Sentinel-1C vai ser antecipado para o primeiro semestre de 2023. Além disso vão ser feitos ajustes ao equipamento dos novos Sentinel-1C e 1D para precaver um problema semelhante ao que afectou o Sentinel-1B.

Space debris

Embora inútil do ponto de vista da observação, o Sentinel-1B está controlado e vai ser mantido estável na sua órbita até que ao lançamento e início de actividade do Sentinel-1C. A remoção do Sentinel-1B seguirá os regulamentos em vigor quando foi fabricado, que prevêem uma queda e combustão na atmosfera tão controlada quanto possível num prazo máximo de 25 anos. O novo Sentinel-1C já será dotado de um sistema inovador de separação de componentes que permite uma combustão mais eficaz na atmosfera quando for desactivado.

Esta preocupação com a remoção do chamado space debris — restos de foguetões e satélites que deixaram de funcionar mas que continuam em órbita — está cada vez mais na ordem do dia. A empresa a suíca Clearspace e a portuguesa Neuraspace são exemplos de tentativas de atacar este problema e gerar negócio em torno do mesmo.

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