Com lançamento hoje, 29 de Agosto de 2022, do mítico Cabo Canaveral, a missão Artemis I dá início a um programa de exploração da Lua. Sucessor do programa Apollo das décadas de 1960 e 70, Artemis pretende diversificar a presença humana no nosso satélite natural. A curto prazo, o programa pretende colocar pela primeira vez uma mulher e uma pessoa de cor na superfície da Lua. A médio e longo prazo, os objectivos são estabelecer presença humana sustentada na Lua, tanto na superfície como em órbita, e a exploração de recurso naturais (água, minérios, …).
Os nomes Apollo e Artemis estão intimamente ligados. Na mitologia grega, o deus Apollo e a deusa Artemis são irmãos gémeos, filhos ilícitos Zeus e Leto (a mulher de Zeus era Hera.) Enquanto Apollo é o deus do Sol e está associado ao dia e à luz, Artemis é a deusa da Lua (também da natureza, das mulheres, do nascimento, dos animais, …). Assim, o nome deste novo programa é ainda mais apropriado à exploração lunar. Na mitologia romana, Artemis tem o nome Diana.
A inclusividade e a colaboração é uma característica fundamental do programa Artemis. Embora liderado pela NASA, o programa inclui a participação da ESA, da CSA, e da JAXA (agências espaciais Europeia, Canadiana e Japonesa.) Formalizados nos chamados Acordos Artemis, o programa pressupõe o entendimento entre nações em relação à expansão da exploração espacial, primeiro na Lua, mas prosseguindo para Marte, asteróides e outros corpos celestes.
A primeira missão do programa, Artemis I, não terá tripulação humana. O objectivo principal é testar o foguetão SLS (Space Launch System) e a cápsula Orion que transportará astronautas em futuras missões. Mas a Orion não vai vazia: para além do Snoopy (em representação da NASA) e da Ovelha Choné (em representação da ESA), a cápsula transportará três manequins, o Capitão Moonikin Campos, a Helga e o Zohar. Estes “tripulantes” estarão equipados com sensores que permitirão medir vários aspecto do conforto abordo da cápsula, principalmente nas etapas mais violentas do lançamento e da reentrada na atmosfera terrestre.
Para além de testar vários aspectos do lançamento, Artemis I vai entrar em órbita da Terra. Em seguida, efectuará o chamado “trans-lunar injection burn” (TLI) em direcção à Lua. Após 6 dias em órbita lunar, a sonda Orion regressará à Terra, efectuando os sempre espectaculares e arriscados reentrada na atmosfera e mergulho no oceano Pacífico. A capacidade de ir à Lua e voltar em segurança é crucial para os próximos passos.
A missão Artemis III será a primeira a levar seres humanos até à Lua. A partir daí começam os objectivos a longo prazo: o estabelecimento de uma base na superfície da Lua (Artemis Base Camp) e uma em órbita da mesma (Gateway), que inclui a exploração de recurso naturais lunares. A Lua é o melhor e mais acessível laboratório para testar a nossa capacidade de viver noutro objecto do sistema solar. Mais à frente poderemos usar toda a aprendizagem da missão Artemis para tentar estabelecer uma presença em Marte.
Se for possível extrair recursos in situ e produzir o equipamento necessário, a Lua pode inclusivamente tornar-se numa base de partida para viagens a Marte. Por exemplo, a menor gravidade lunar permite poupança de energia no lançamento. Também podemos pensar nas vantagens de reduzir o uso de recursos e a poluição do nosso planeta, mas isso seria como ir despejar o lixo no jardim dos vizinhos, neste caso interplanetários. Felizmente que existem os Acordos Artemis, que nos motivam para continuar a pensar no nosso impacto e na exploração responsável do espaço, para que não se cometam os mesmos erros que já se cometeram no nosso planeta.