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Porquê o infravermelho?

O Webb foi concebido para detectar radiação infravermelha, com comprimentos de onda acima de 0.6 µm (micrómetro, a milionésima parte do metro) e estendendo-se até aos 28 µm. Porquê observar radiação infravermelha, invisível, por natureza, aos nossos olhos?

A opção do Webb pelo infravermelho deve-se principalmente a 3 factores:

  • Alguns objectos celestes, os mais frios, são mais brilhantes no infravermelho do que no visível.
  • A radiação infravermelha passa com mais facilidade através de nuvens de poeira permitindo ver o que se passa no interior das mesmas.
  • O comprimento de onda da radiação proveniente do universo mais distante alonga-se à medida que a mesma se aproxima de nós, o que transporta a região visível do espectro para o infravermelho.

A opção pelo infravermelho vem também complementar a de telescópios que o antecederam, o Hubble Space Telescope, sensível a radiação desde o ultravioleta (0.09 µm) até aos princípios do infravermelho (2.5 µm), e o Spitzer Space Telescope, optimizado para radiação com comprimentos de onda ainda mais longos, atingindo a região do espectro das microondas.

Complementaridade de telescópios espaciais. O Hubble, ainda em funcionamento, é sensível à radiação visível aos nossos olhos, enquanto o novo Webb é mais sensível à região do infravermelho. Outro telescópio espacial chamado Spitzer, que esteve em funcionamento entre 2003 e 2020, focou-se no infravermelho mais distante motivado por objectivos científicos diferentes. CREDIT: NASA and J. Olmsted [STScI].

Tudo emite radiação

É verdade: tudo emite radiação electromagnética. O comprimento de onda da radiação emitida por um objecto ou ser vivo depende da temperatura do mesmo. Assim, enquanto a superfície de estrela ou uma vela acesa têm temperaturas nos milhares de ºC e emitem radiação com comprimentos de onda no visível (cerca de 0.5 µm), os seres humanos e animais, com temperaturas por volta dos 35 ºC a 40 ºC, emitem radiação com comprimentos de onda no visível (cerca de 10 µm).

Óculos especiais desenvolvidos para bombeiros e militares, e sensores desenvolvidos para a indústria automóvel tiram partido da radiação emitida por pessoas e animais para os detectar no escuro, no meio de vegetação, ou através de fumo (ver imagem).

Comparação de como um sensor de radiação visível (p.ex. os nossos olhos) e um de radiação infravermelha “vêem” a mesma situação. No infravermelho o corpo da pessoa dentro da porta “brilha” e é facilmente detectável. Credit: Teledyne FLIR

O início e o fim das estrelas e planetas

Ora as estrelas tanto no início como perto do fim das suas vidas têm temperatura muito mais baixas que o Sol, e assim brilham mais no infravermelho. Planetas gigantes como Júpiter e o processo de formação (e destruição) de planetas em discos que envolvem a estrela anfitriã também emitem radiação infravermelha.

Assim, o Webb, equipado com os seus detectores infravermelhos e o maior espelho alguma vez lançado para o espaço, pode estudar todos estes objectos e processos em grande detalhe.

Porque é que o céu é azul?

Um arco-íris mostra-nos que a luz que nos chega do Sol é uma sobreposição de várias cores (ou comprimentos de onda). Gotículas de água na atmosfera funcionam como prismas e subdividem a luz nas diferentes cores. A componente da luz perto do violeta e azul, de comprimento de onda mais curto, é reflectida e desviada em todas as direcções por moléculas e poeiras na atmosfera, enquanto a componente de comprimento de onda mais longo, na região do vermelho passa por esses obstáculos com mais facilidade. É exactamente por sofrer uma grande dispersão na atmosfera que a luz azulada “pinta” o céu de azul.

Pelo mesmo princípio, se queremos estudar processos no universo que se desenrolam por detrás de nuvens de gás e poeira, temos que recorrer a radiação com comprimentos de onda mais longos ainda do que o vermelho, na região do infravermelho. A imagem abaixo mostra quão transparente se torna uma nuvem de gás e poeira, no interior da qual estão a nascer estrelas, quando a observamos no infravermelho versus uma imagem no visível.

Comparação da região de formação de estrelas chamada Montanha Mística quando vista no visível e no infravermelho. Regiões completamente ofuscadas por poeira na imagem da esquerda tornam-me transparentes à radiação infravermelha.

A teoria da relatividade

Uma das consequências da teoria da relatividade geral Einstein é que o espaço em que vivemos se tem vindo a expandir desde o big bang. Essa expansão não resulta do aparecimento de mais espaço, tipo soprar num balão que acrescenta ar ao mesmo. O que se passa é que o próprio espaço “estica” — novamente como um balão, mas agora a superfície que aumenta de área sem acrescentarmos mais borracha.

Ora o esticar do espaço estica também a radiação que nele se propaga. Assim, o comprimento de onda de radiação emitida há 13 biliões de anos, na infância do universo, chega-nos esticado. O que era luz visível à partida torna-se luz infravermelha à chegada ao telescópio Webb.

Assim, para estudarmos a primeira geração de galáxias e vermos o que veríamos com os nossos próprios olhos no tempo em que o universo era menino (ou menina) temos que olhar para a luz que nos chega no infravermelho.

Luz de galáxias distantes no espaço e no tempo, que nos chega com comprimentos de onda mais longos devido à expansão do universo. CREDIT: NASA and A. Feild [STScI].

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